Vem aí a super farmacêutica? (Istoé Dinheiro)
Sáb, 03 de Abril de 2010 00:00
- Os executivos da empresa farmacêutica Aché não têm encontrado muito tempo para sair da empresa. E não é por falta de vontade. É que, desde o início do ano, o comando da companhia vem recebendo constantes visitas de representantes de bancos, fundos de investimentos estrangeiros e nacionais, e até de empresários concorrentes.
Todos interessados em participar de uma futura – mas não tardia – abertura de capital da empresa. “Estudamos todas as possibilidades de crescer, seja com compra ou fusão, para lançarmos nossos papéis na bolsa até março de 2011”, disse José Ricardo Mendes da Silva, presidente da companhia, com exclusividade à DINHEIRO.
De todas as visitas que ele tem recebido, entretanto, uma tem chamado a atenção: a de diretores do Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social (BNDES). O objetivo, como o mercado especula há tempos, é fomentar uma possível fusão do Aché com outros laboratórios nacionais e, assim, formar uma gigante brasileira na área farmacêutica.
“Seria a junção de laboratórios do Brasil com interesses comuns. A iniciativa de procurar uma parceira está sendo nossa”, comenta Mendes da Silva. “O BNDES será o padre e, como em todo casamento, ele não decide. Apenas abençoa.” É a primeira vez que um alto dirigente de uma grande empresa do setor admite que está conversando com o banco do governo.
O plano da companhia, que faturou R$ 2,1 bilhões em 2009, é usar parte dos R$ 400 milhões que possui em caixa para adquirir empresas médias do setor com receitas em torno de R$ 100 milhões. E, claro, que possuam um port-fólio de remédios complementares aos que a Aché dispõe hoje.
“A ideia é fortalecer a musculatura financeira da empresa e fazer com que os investidores cheguem ao preço justo de nossas ações na hora de um IPO”, diz Mendes da Silva. O BNDES prefere não comentar as afirmações do comandante do Aché, mas seus representantes confirmaram recentemente que pretendem criar um grande grupo nacional por meio de participação acionária do banco ou de injeção de capital em fusões ou aquisições. Não é a primeira vez que o banco estatal faz um movimento como esse.
A instituição foi, por exemplo, a principal incentivadora da criação da supertele Oi, resultado da união da Brasil Telecom com a Telemar, e também da empresa de alimentos Brasil Foods, fruto da junção de Sadia e Perdigão. “A criação de uma gigante do setor farmacêutico seria benéfica para o País, que teria uma indústria forte, com condições de investir mais em inovação e importar menos remédios”, afirma Mendes da Silva. “Há sim pontos positivos, mas não impositivos. Especular o assunto dá a impressão de que o BNDES está forçando uma possível fusão, coisa que não acontece”, desconversa.
As empresas que são vistas como possíveis parceiras da Aché em uma futura fusão seriam a BioLab, a EMS, a Cristália ou a Eurofarma . Analistas apontam, contudo, que a noiva ideal para o casamento do Aché seria a Eurofarma. “Todas as companhias nacionais, com exceção da Aché, têm gestão familiar, o que poderia atrapalhar nas negociações”, comenta Bruno Savio Nogueira, analista do setor farmacêutico da Lafis Consultoria.
“De todas, a Eurofarma é a mais profissionalizada, embora seu controle seja familiar. Além disso, é uma empresa forte em genéricos e tem estratégias comerciais semelhantes às da Aché.” A Eurofarma, por sua vez, descarta a possibilidade de fusão com qualquer concorrente. “Nosso foco é adquirir empresas menores em países da América Latina para liderar o mercado nessa região até 2015”, diz Maria Del Pilar Muñoz, diretora de novos negócios da Eurofarma. “A possibilidade de fazer parte de uma megafarmacêutica nacional é interessante, mas não é o caminho que queremos seguir no momento.”
Juntas, Eurofarma e Aché faturariam cerca de R$ 3,3 bilhões, valor um pouco menor do que a concorrente francesa Sanofi-Aventis, que atingiu a marca de R$ 3,4 bilhões de receita depois de comprar o laboratório Medley, em abril de 2009, por R$ 1,5 bilhão. “Para concorrer com os estrangeiros, algumas empresas nacionais teriam de se unir, pois é preciso muito dinheiro para bancar os investimentos na área”, explica Marcello Albuquerque, diretor de linha de negócios da consultoria IMS Health.
O setor farmacêutico é um dos que mais demanda capital. De acordo com Nogueira, da Lafis, o investimento médio na criação de um novo medicamento é de US$ 800 milhões, desde a descoberta da molécula até o produto final que chega ao consumidor. Ao criar uma megacompanhia, o governo também vislumbra a possibilidade de importar menos medicamentos e, assim, diminuir seus custos. “O déficit da balança comercial gerada pelo setor de saúde é de US$ 7 bilhões e a intenção é encontrar maneiras de reduzir esse número para US$ 4 bilhões nos próximos anos”, diz Nogueira.
Outro ponto positivo da criação de uma gigante é ter uma empresa nacional competitiva no Exterior e não deixar o fornecimento apenas nas mãos dos estrangeiros. O mais forte indício de que o grande laboratório nacional pode surgir ainda neste ano vem da movimentação do mercado farmacêutico no mundo. Atualmente o segmento passa por uma fase definida pelos analistas como “penhasco das patentes”. Isso porque, nos próximos três anos, uma série de patentes será quebrada, o que beneficiaria os fabricantes de medicamentos genéricos.
“Essas empresas, localizadas em países emergentes como o Brasil, são alvo de compra das gigantes estrangeiras”, afirma Ricardo Mendes, especialista da Prospectiva Consultoria Estratégica. “Isso explica a preocupação do BNDES de manter as empresas nacionalizadas por meio de ajudas financeiras de vários tipos.”
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