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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Ingênuo ou esperto demais ??? Só Freud explica.

Pseudocracia e desculpas presidenciais (Correio Popular - Opinião - 16/8/2005)
Roberto Romano

O Dicionário Houaiss explica a palavra “desculpa”: ato ou efeito de desculpar(-se), clemência para com falta cometida; perdão, razão ou motivo alegado por alguém para desculpar a si mesmo ou a outrem; justificativa, motivo invocado como subterfúgio; pretexto. Como “subterfugio”, a palavra possui sinônimos: ambages, conversa, efúgio, escapadela, escaparate, escapatória, escapula, escusa, evasão, evasiva, fuga, história, rodeio, tergiversação, torcedura, torcimento. O presidente tenta carambolar a Nação, busca um habeas corpus preventivo que o livre de falar a verdade. Ouvimos do eterno sindicalista, hoje só apoiado pelos aduladores pagos ou pelegos, a costumeira “auto-crítica dos outros”. Sua fala é pseudocrática, baseada na mentira. Mentira o “Lulinha paz e amor”, mentira o magistrado desprovido de saberes sobre seu próprio governo e partido.
“Os que fabricam engodos podem ser chamados maquinadores, fabricantes, impostores. Quem, deliberadamente conduzido ao engano, encontra-se enredado numa construção ou fabricação, pode ser dito inocentão, primo, ingênuo, tonto, bocó, boneco, vítima”. As frases foram extraídas de um artigo cruel, “La mentira como efecto de sentido” incluído em coletânea oportuna: El Discurso de la Mentira (editado por Carlos Castilla, Madrid, Alianza Universidade). Com o aranzel presidencial temos a divisão entre espertos e idiotas. Ele se imagina esperto e nos julga idiotas. Na sua fala instala-se, gloriosa, a mentira.
Mentir pode ser necessário. Platão diz que o médico tem direito de mentir ao doente para eludir o desespero, pois ninguém conhece a força regenerativa do corpo humano. Não dizer a “verdade” significa deixar que a natureza opere possível cura. Se o doente morre, foram-lhe poupados terrores sombrios. Como o médico, adianta Platão, o governante pode mentir tendo em vista proteger a cidade dos inimigos externos com seus espiões etc. Tal “direito” dura até hoje, mesmo que a democracia o recuse. A chamada “razão de Estado” é uma arte de utilizar a mentira e o segredo, de modo a enganar os cidadãos e os estrangeiros para o “bem da pátria”. Frederico da Prussia chegou a colocar o tema em concurso na Academia de Berlim (1778). A questão, respondida com seriedade por muitos cérebros brilhantes: “É útil enganar o povo?”. Hegel responde ao quesito mais tarde, nas Lições sobre a Filosofia do Direito (1821), no parágrafo 317: “Um povo não se deixa enganar quando se trata de seu fundamento substancial, sua essência e o caráter determinado de seu espírito. Ele pode se enganar no modo pelo qual conhece aquele fundamento, na maneira pela qual ele julga seus atos e acontecimentos de sua história, ele engana a si mesmo”. Digamos em termos simples: o mentiroso no poder só consegue atingir seu objetivo se o povo aceita a mentira como algo que lhe cabe. O sucesso na peta exige adesão prévia. No caso das repetidas mentiras ditas por Lula e pela sua tropa de choque não ocorre a cláusula de Hegel: o povo brasileiro não engole o engodo e não cai mais na esparrela de confiar no PT. Este, se formos analisar a atuação e os enunciados de Genoino, Delúbio, Silvio Lando Rover, Paulo Pimenta e tutti quanti é conhecido merecidamente como o Partido da Trapaça.
Todos se recordam do Poderoso Chefão, magistral painel das misérias humanas dirigido por Coppola. Numa das cenas, certo mafioso preso promete abrir a boca e “contar tudo” à CPI do Congresso Norte-Americano. Os antigos parceiros trazem seu irmão mais velho que se apresenta, silente, entre os observadores da CPI. Pouco antes, um conselheiro dos bandidos promete ao salafrário que, uma vez calado o seu bico, a família receberá ajuda material. O penitente delator cala, diz nada saber etc. O comportamento dos petistas nas CPIs brasileiras segue o paradigma mafioso, ou o modelo da Conceição cantada por Cauby Peixoto: “Ninguém sabe, ninguém viu”. Agora, o chefe da turma usa recurso igual. Ele nunca soube, nunca viu, nunca ouviu, nunca cheirou, nunca tocou os dejetos produzidos por seus amigos e parceiros de muitos e muitos anos. E diz ter sido enganado, mas não fala os nomes dos espertos. Ou é tolo ou esperto em demasia. E sua esperteza foi reconhecida imediatamente pelos contribuintes. O fedor de Waldomiro Diniz, de seu patrão e amigo, mais a fedendita da cúpula petista hoje arriada do poder, se espraiou pelo País todo. Singular entupimento dos cinco sentidos presidenciais! Não aceitemos desculpas. Inclusive a tese de João Sayad deste sábado (Folha, 14/8/2005): “Instituições políticas e democracia dependem de mentiras”. Existem mentiras toscas e mentiras convenientes. A de Sayad busca salvar os seus amigos petistas. A ela voltarei. Se a oposição teme (o que é um erro tático e estratégico) aprofundar a cobrança da responsabilidade presidencial, deve exigir as confissões de seus subornidados, pois todos sabem que os poderosos chefões sempre agem ao modo exibido por Coppola: eles ficam impunes e seus auxiliares seguem, mudos, para a morte. E o povo brasileiro está farto de saber: com Delúbios ou sem Delúbios, todos eles são o Lula.

Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp, escreve às terças-feiras.

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